domingo, 31 de maio de 2009

Ser humano é uma doença.
" A ruína dos ideais clássicos fez de todos artistas possíveis, e portanto maus artistas. Quando o critério da arte era a construção sólida, a observância cuidada de regras - poucos podiam tentar ser artistas, e grande parte desses são muito bons. Mas quando a arte passou de ser tida como criação, para passar a ser tida como expressão de sentimentos, cada qual podia ser artista, porque todos têm sentimentos."

terça-feira, 26 de maio de 2009

O silêncio não existe.

É possível que, não obstante raramente, um determinado sujeito seja acomentido pela sensação da quase ausência de sons sendo produzidos nas imediações os quais estejam dentro do espectro de frequências e decibéis audíveis por um ouvido humano.


Enquanto o "eu", sujeito-ente, existe, o silencio não existe.

Um coração bate, 

uma proteína é sintetizada,

um pseudópodo se move,

um vírus se reproduz,

...


Enquanto existe movimento existe som. 


O movimento que empurra o ser humano para o segundo seguinte e abriga o embrião do sofrimento no agora sempre mutável.

Meu canto é sofrer.


E quando nada mais existir ainda ecoará por aqui a silenciosa música das esferas.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Meu nome é Marco Zero

Não penso, logo existo 
                             resisto
                             re-existo

Sou o que não é, o que quase foi e o que talvez será

À esquerda sou nulo, à direita, múltiplo

O fator ignorado que se mostra

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Não possuo identidade. Sou uma sucessão de elementos encadeados os quais permeiam um corpo padronizado pelos outros como o mesmo e escoam em formas diversas e potencialmente aleatórias, não fossem alguns caminho já tão traçados que formam um vinco por onde futuras formas tendem a escorregar. Elaboram-se obsessivamente múltiplas interpretações e algum padrão por aqueles que observam e que tem essa habilidade classificatória como premissa para sua existência.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Hoje sou tigre correndo urrando  
veloz, que se desmancha no horizonte,
correndo do fogo e em direção a ele,
prestes a morder o próprio rabo.

E aprecio incomensuravelmente a plenitude de não estar pleno. Pois o tempo já não existe. Sou.

"Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?"
"Todo aquele que é composto harmonicamente deleita-se com a harmonia e uma profunda contemplação do primeiro compositor. Há nela algo da divindade mais do que descobre o ouvido; é uma hieroglífica e obscurecida lição sobre todo o mundo, uma pequenina seção da harmonia que soa nos ouvidos de Deus."

terça-feira, 12 de maio de 2009

Já não suporto mais palavras, mas ainda escrevo, porque elas são fortes demais, são um vício que destrói qualquer possibilidade de veracidade partindo de mim. Meu ego é tão inchado e lustroso que obstrui e ofusca minha visão, ele quer se ex-pressar, se pressionar para fora mesmo que empurrado, cambaleando e desequilibrado, espremido esperneando e xingando a tudo e a todos, ele quer ser visto e amado pelo mundo, e não bastante, por todos os seres vivos e não vivos conscientes e inconscientes desse plano e de todos os outros existentes em si ou como potencialidade.
Ensaiamos com fervor todos os dias ao adormecermos para a apoteose final.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Há algo em mim que cheira a pasto.
Rasgo-te em pedaços com um golpe bestial de dentes, e mastigo com intensa pressão a carne ainda tesa. 

Mas ela não se tritura, não se digere. E se transforma em uma massa borrachosa e ressecada que se agarra nas paredes de minha boca com ligas de uma certa piedade dissimulada que se multiplicam deliberadamente com a intenção de me sufocar. 



Escrevo, sinal de que não conseguiu.


Solidão.

Dentro de mim, o universo inteiro.

Fora de mim, o resto dele.
E permanece a impressão que no instante seguinte todo esse desenfreado interpolamento de sensações irá desfalecer em rotas partículas flácidas de ar, fadadas à dispersão aleatória, pairando sem consciência de um dia terem sido qualquer coisa que seja causa ou efeito de alguma coisa qualquer.

Mas os instantes se atropelam e continuo aqui.
"A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. A minha grande nostalgia é de nada, é nada, como o céu alto que não vejo e que estou fitando impessoalmente."

sábado, 2 de maio de 2009

"Mas pra que
Pra que tanto céu
Pra que tanto mar,
Pra que

De que serve esta onda que quebra
E o vento da tarde
De que serve a tarde
Inútil paisagem

Pode ser
Que não venhas mais
Que não voltes nunca mais

De que servem as flores que nascem
Pelo caminho
Se o meu caminho
Sozinho é nada

É nada


É nada"

sexta-feira, 1 de maio de 2009

E o que me importa se o nada existe quando posso imaginá-lo?
Me perguntam como seria o mundo perfeito. Só consigo imaginar que perfeito seria apenas o não-mundo. E o não-mundo me aparece como um sonho com o nada.

O nada, se existe, é algo que não conheço, assim como a perfeição, então me é bem conveniente associar os dois. Mas a existência já implica para mim a imperfeição, então talvez a perfeição fosse o não-existir. Mas será que ele existe?
Como nesse mundo me cuspiram, dele serei escarrada.
O que chamam de felicidade é apenas uma questão de hábito. E não, essa frase é minha, não foi tirada de um livro barato de auto-ajuda.