sábado, 26 de dezembro de 2009

É necessário que corpo tensione a corda para baixo e que o espírito tensione-a para cima para que a alma possa produzir sua vibração.
"A irrupção dos nossos desejos, no meio de nossos conhecimentos que os invalidam, cria um conflito temível entre o nosso espírito inimigo da criação e o fundo irracional que nos une a ela. Cada um dos nossos desejos recria o mundo e cada um dos nossos pensamentos o aniquila. Na vida de todos os dias alternam-se a cosmogonia e o apocalipse: criadores e demolidores cotidianos, praticamos a uma escala infinitesimal os mitos eternos; e cada um de nossos instantes reproduz e prefigura o destino de sêmen e cinza reservado ao infinito."

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Algo cochicha em meus ouvidos que somos símbolos a serviço de um certo Deus...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"Os deuses não igualo! ah! quão profundo o sinto!
Igualo o verme que, faminto,
No pó se nutre; e ao qual, enquanto escava a vasa,
O pé do caminhante esmaga, arrasa."

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

“Todas as coisas conhecidas tem um numero, porque sem ele não seria possível que algo fosse compreendido ou conhecido”
Omne trium perfectum
"Apesar de podermos rir do teatro apreendendo este como realidade, ele impele uma seriedade sufocante se o apreendermos apenas como uma peça."
Amar é permitir que alguém te mate.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

"Sonho com um minuto dourado, fora do devir, com um minuto ensolarado, transcendente ao tormento dos órgãos e à melodia de sua decomposição."

sábado, 31 de outubro de 2009

O amor, esse abominável vício do ego, empreitada frustrada de fusão com a Unidade através de outra unidade, que todavia causa dependência por proporcionar breves instantes de torpor alimentados pela ilusão química da dissolução da concepção dual no ser acometido por esta falácia.

sábado, 24 de outubro de 2009

"Estamos unidos uns aos outros por um pacto tácito de aguentar até o último suspiro."

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Quero viver lentamente para poder sentir que estou morrendo.
Sou um eu sem rima

Massacrado pela alma do mundo

Sou um eu sem rumo

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"A única função do amor é nos ajudar a suportar as tardes dominicais, crueis e incomensuráveis, que nos ferem para o resto da semana - e para a eternidade"

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O fedor do coletivo.
Depois de quase quatro luas de silêncio, aqui me encontro novamente, e grito. O grito nauseabundo da bile negra que congestiona este corpo e com suas contrações esganadas agarra por estas paredes vestígios do que eventualmente poderia ter sido, consolidando-se em tal ato como venerável fruto podre com o qual somos presenteados pela generosa eucrasia que permeia a existência. 

Lambe a terra e vomita céu. 

Amem.



Como a vida seria indigesta sem você, querido objeto de transferência.



terça-feira, 9 de junho de 2009

A ausência de parâmetros tão característica da contemporaneidade massacra toda tentativa de argumentação sobre qualquer assunto que seja. 

O exercício cotidiano do qualquer-notismo atinge seu apogeu esplendoroso na arte, onde se torna objeto sacro de contemplação. Questionar significaria nos despirmos das ilusões com as quais relativizamos tudo e afastamos de nós o absurdo da realidade, então tal fato é evitado. A tradição é abertamente desprezada como obsoleta. E a arte sucumbe numa medíocre imitação da realidade.

domingo, 7 de junho de 2009

Quero atritar-me com esta couraça cortante e vítrea até que o sangue logo abaixo dela ferva, rompa-se em cuspes de erupção e abrase a dualidade que traga a nossa existência.
Mente turva, de negra espécie,

seu gotejar constante em adagio pegajoso anoitece meu terceiro olho

e induz o parto de suas lagrimas natimortas. 

sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Havendo lucidez, não há fixações, rigidez ou impaciência. A isso chamamos paz."

terça-feira, 2 de junho de 2009

O peso de continuar carregando os pedaços.

Ouve-se os gemidos do exército de zumbis esquartejados, façamos algo.

O rio que passa.

Calam-se. 

Todavia não, não façamos nada, absolutamente nada mais que apenas deixar-se existir inteiro. E passar. 

Reconheçamos a existência, a força implacável e a sabedoria contida nas tripas para que elas não nos dominem silenciosamente. 

Sejamos leito desapegado para que o movimento do feixe de impressões sensorrágicas vomitado em chafariz de pensamentos não obstrua nossa presença.

Demonstremos para o ego que ele nos guia para que nós o tiremos do caminho.


Quero morrer na lutando guerra e não apunhalada pela minha própria sombra em sono profundo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sou uma parte ínfima e insignificada deste todo amedrontador - agradeço a ele por me acolher e manter-me ignorante de todo o resto (que astuto, pois, ao utilizar-se de tal truque, ainda cultiva meu respeito imenso).
Hoje sinto-me um cadáver, não obstante insisto que só morro quando permito-me morrer.

Minha vontade é de uma morte onde o meu líquido viscoso penetre as rachaduras da terra  e escorra num requebrar denso e grave atraído inevitavelmente para ser deglutido pela escaldante lucidez do centro placentário desta esfera pulsante eternamente indomável.

domingo, 31 de maio de 2009

Ser humano é uma doença.
" A ruína dos ideais clássicos fez de todos artistas possíveis, e portanto maus artistas. Quando o critério da arte era a construção sólida, a observância cuidada de regras - poucos podiam tentar ser artistas, e grande parte desses são muito bons. Mas quando a arte passou de ser tida como criação, para passar a ser tida como expressão de sentimentos, cada qual podia ser artista, porque todos têm sentimentos."

terça-feira, 26 de maio de 2009

O silêncio não existe.

É possível que, não obstante raramente, um determinado sujeito seja acomentido pela sensação da quase ausência de sons sendo produzidos nas imediações os quais estejam dentro do espectro de frequências e decibéis audíveis por um ouvido humano.


Enquanto o "eu", sujeito-ente, existe, o silencio não existe.

Um coração bate, 

uma proteína é sintetizada,

um pseudópodo se move,

um vírus se reproduz,

...


Enquanto existe movimento existe som. 


O movimento que empurra o ser humano para o segundo seguinte e abriga o embrião do sofrimento no agora sempre mutável.

Meu canto é sofrer.


E quando nada mais existir ainda ecoará por aqui a silenciosa música das esferas.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Meu nome é Marco Zero

Não penso, logo existo 
                             resisto
                             re-existo

Sou o que não é, o que quase foi e o que talvez será

À esquerda sou nulo, à direita, múltiplo

O fator ignorado que se mostra

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Não possuo identidade. Sou uma sucessão de elementos encadeados os quais permeiam um corpo padronizado pelos outros como o mesmo e escoam em formas diversas e potencialmente aleatórias, não fossem alguns caminho já tão traçados que formam um vinco por onde futuras formas tendem a escorregar. Elaboram-se obsessivamente múltiplas interpretações e algum padrão por aqueles que observam e que tem essa habilidade classificatória como premissa para sua existência.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Hoje sou tigre correndo urrando  
veloz, que se desmancha no horizonte,
correndo do fogo e em direção a ele,
prestes a morder o próprio rabo.

E aprecio incomensuravelmente a plenitude de não estar pleno. Pois o tempo já não existe. Sou.

"Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?"
"Todo aquele que é composto harmonicamente deleita-se com a harmonia e uma profunda contemplação do primeiro compositor. Há nela algo da divindade mais do que descobre o ouvido; é uma hieroglífica e obscurecida lição sobre todo o mundo, uma pequenina seção da harmonia que soa nos ouvidos de Deus."

terça-feira, 12 de maio de 2009

Já não suporto mais palavras, mas ainda escrevo, porque elas são fortes demais, são um vício que destrói qualquer possibilidade de veracidade partindo de mim. Meu ego é tão inchado e lustroso que obstrui e ofusca minha visão, ele quer se ex-pressar, se pressionar para fora mesmo que empurrado, cambaleando e desequilibrado, espremido esperneando e xingando a tudo e a todos, ele quer ser visto e amado pelo mundo, e não bastante, por todos os seres vivos e não vivos conscientes e inconscientes desse plano e de todos os outros existentes em si ou como potencialidade.
Ensaiamos com fervor todos os dias ao adormecermos para a apoteose final.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Há algo em mim que cheira a pasto.
Rasgo-te em pedaços com um golpe bestial de dentes, e mastigo com intensa pressão a carne ainda tesa. 

Mas ela não se tritura, não se digere. E se transforma em uma massa borrachosa e ressecada que se agarra nas paredes de minha boca com ligas de uma certa piedade dissimulada que se multiplicam deliberadamente com a intenção de me sufocar. 



Escrevo, sinal de que não conseguiu.


Solidão.

Dentro de mim, o universo inteiro.

Fora de mim, o resto dele.
E permanece a impressão que no instante seguinte todo esse desenfreado interpolamento de sensações irá desfalecer em rotas partículas flácidas de ar, fadadas à dispersão aleatória, pairando sem consciência de um dia terem sido qualquer coisa que seja causa ou efeito de alguma coisa qualquer.

Mas os instantes se atropelam e continuo aqui.
"A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. A minha grande nostalgia é de nada, é nada, como o céu alto que não vejo e que estou fitando impessoalmente."

sábado, 2 de maio de 2009

"Mas pra que
Pra que tanto céu
Pra que tanto mar,
Pra que

De que serve esta onda que quebra
E o vento da tarde
De que serve a tarde
Inútil paisagem

Pode ser
Que não venhas mais
Que não voltes nunca mais

De que servem as flores que nascem
Pelo caminho
Se o meu caminho
Sozinho é nada

É nada


É nada"

sexta-feira, 1 de maio de 2009

E o que me importa se o nada existe quando posso imaginá-lo?
Me perguntam como seria o mundo perfeito. Só consigo imaginar que perfeito seria apenas o não-mundo. E o não-mundo me aparece como um sonho com o nada.

O nada, se existe, é algo que não conheço, assim como a perfeição, então me é bem conveniente associar os dois. Mas a existência já implica para mim a imperfeição, então talvez a perfeição fosse o não-existir. Mas será que ele existe?
Como nesse mundo me cuspiram, dele serei escarrada.
O que chamam de felicidade é apenas uma questão de hábito. E não, essa frase é minha, não foi tirada de um livro barato de auto-ajuda.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Minha vida é uma alternância de momentos em que regojizo por atravessar os limites do meu ser e me entremear neste esferóide de existências e momentos em que sinto um descontrolado asco, uma repugnância visceral por tudo o que sinto e que aqui ainda resiste.

domingo, 26 de abril de 2009

Inspiro
Instalo
Incluso 
Expiro
Espirro
Expurgo



E o intervalo entre eles é deus

Eu quero engolir o mundo, mas desde já temo uma grande indigestão...
E um belo dia... um dia belo como hoje. Faíscas solares suaves porém afiadas arranham as frestas antes ocultas de minha alma e contrastam com a podridão faminta que lá se estabeleceu.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O ódio me alimenta, o amor me esgota.
Quero me afogar no coma que separa você de mim.
A felicidade humana é extática, quer permanecer inerte. O sofrimento humano existe porque nada permanece realmente, tudo está em constante modificação. O mau é o motor do mundo.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Would actually like (not) to.
Sou tão mulher. Can't help it.
Está aberto o circo! Bem vindos todos vocês a esse inferno tragicômico no qual estamos todos presos, todos, sem exceção ( e se te consideras uma exceção, darei-te o imenso prazer de ser nosso proximo homem-bala contra sua doce muralha de ferro).

Beba, beba tudo, se embriague até a ultima gota e lamba freneticamente o recipiente. Depois, vomite na minha face todo o seu expurgo, e ria, gargalhe, com sua boca enorme e vermelha de dentes grandes e brancos, até que seus musculos extasiados e trêmulos se revoltem contra sua autoridade tão meticulosa e rasguem sua pele e triturem seus ossos e encharcados com seu sangue sejam atirados para todos os lados para o delírio da platéia.
O amor é um jogo de pequenas perversões e ridicularidades.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

E mais um ano se inicia. O início é sempre saboroso, doce ou amargo, é ele sempre inchado de sabor. Mas há todavia aromas sutis que só são sentidos no fim, ou depois dele. Eles vêm como uma lembrança de algo que nunca aconteceu.

terça-feira, 31 de março de 2009

"Aquele que se conhece pode se estimar, por pouco que seja?"
Eu nunca tenho o suficiente. E quando o tenho ele já não é mais suficiente.
Me sinto como qualquer coisa jogada fora em algum lugar que não aqui.

domingo, 29 de março de 2009

O som obstrui meu raciocínio.

Oh, faça-se então que eu ouça a sinfonia dos meus órgãos como um contraponto de inúmeras correntes engambeladas de fluidos-sólidos pulsantes condensados e condenados ao meu corpo até o fim. 
Pelo menos por enquanto...
Sim, mundo podre que vomita incessantemente suas maracangalhas em mim, você que se cuide, pois terá de me aturar por inteiro nessa roda viva vertiginosa que me engole pelos cabelos sem nem me pedir permissão.